sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Braço de ferro

Estes dias temos vivido cá por casa um autêntico braço de ferro... educacional... motivacional... geracional... e sei lá mais o quê... Arre!
Temos vivido horas de tensão. Dias de uma espera que nunca mais acaba e que já me está a deixar transtornada. 
A genética é uma coisa tramada. É uma bandida, pá!
E a teimosia que deriva daquela carga genética maluca? Ai, ai!
Tenho a certeza absoluta de que a tarefa de educar uma criança é das mais difíceis que existe no mundo. Pior do que isso, só tentar educar um adulto. É como a minha avó dizia, "de pequenino se torce o pepino."
É que isto de se tentar mostrar o que é correto, o que deve ser feito, o que se deve comer, como se deve estar sentado é duma canseira maluca. E quando me lembro de tentar educá-la literariamente é que o circo pega fogo. Credo. Tento tanta vontade de lhe gritar e atirar com a televisão pela janela que as palavras até me saem aos tropeções e quase descabidas de sentido. Brrhhh!
Há que respirar fundo. Dar ao animal um pouco daquilo que lhe alimenta o espírito :( e depois voltar à carga. Uma e outra e outra e mais outra vez. Sim, porque se ela é teimosa que nem um burro eu sou pior que um rinoceronte. 
Portanto, neste momento, para que não aconteça nenhuma desgraceira com repercussões catastróficas estou aqui, a respirar fundo e a apanhar os cabelos do chão.
É. Hoje estamos nisto. Como estivemos ontem e antes de ontem e há uma semana atrás. Emprestem-me paciência que a minha já escasseia. Cruzes! 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Bolotas e bugalhos

Hoje li um par de palavras que me remeteram como que num flash até à minha infância. 
Bolotas e bugalhos eram as palavras. Duas simples palavrinhas que me ativaram rapidamente a memória das tardes passadas em casa da minha grande, grande amiga Carla Sofia. Que saborosa memória aquela. E que saudade eu sinto da Carla Sofia. E das bolotas. E dos bugalhos. E do pinhal. E do Mogli. 
Passo a explicar:
A minha amiga Carla Sofia, mais conhecida como Carla Sopa (porque na escola se enganou a escrever o nome na abertura do caderno diário e ficou irremediavelmente conhecida como Carla Sopa) vivia numa casa secular mais ou menos próxima da minha. E como todas as casas seculares a pedir obras quase desde que foi erguida, rangia por todos os lados. Estava quase a cair de podre. Sempre a conheci assim. Sempre a vi assim. Até que acabou por ser demolida pra dar vida a um imponente edifício envidraçado aqui no centro da vila. E que pena eu tive quando isso aconteceu. Acho que esse foi o momento que marcou o fim da minha infância. E quer acreditam quer não, ainda hoje me dói falar sobre isto. Incomoda-me mesmo. É um misto de tristeza e saudade. E não é nada agradável...
Bom, voltando às bolotas e aos bugalhos que me fazem logo sorrir...
O quintal da casa da Carla Sofia era eeenorme. Cheio de cultivo, muitas árvores de fruto. Tinha também um cão muito engraçado e do qual já não me recordo o nome, que vomitava sempre que saíamos de carro. Era hilariante! Ainda no quintal, havia um tanque gigantesco que transformávamos em piscina e, mesmo lá ao fundo, um pinhal. Não imaginam as brincadeiras que fazíamos no pinhal. Era tão feliz. Era extremamente feliz e nem me dava conta. Chegava a sonhar com as nossas brincadeiras no pinhal.
Naquele pinhal que conhecíamos de cor e salteado vivia o Mogli. O koala Mogli. Um amiguinho inventado, claro está. Corríamos pelo pinhal com o Mogli. Tratávamos dele, porque pertencia a uma espécie em vias de extinção, alimentávamo-lo e cantávamos canções para que adormecesse. 
- "Mogli tem medo. Mogli tem soninho..." Enfim, uma loucura. Muito boa e muito inocente. 
O pinhal tinha montes de bolotas e os ditos bugalhos que serviam para cozinharmos quando brincávamos às casinhas e, nos dias maus, para atirarmos uns aos outros feitos parvos. Sim, porque tenho viva a memória de que os bugalhos magoavam imenso.
Pronto, tudo isto só porque li num texto estas duas palavras mágicas pra mim - bolotas e bugalhos.
E que saudades eu tenho da Carla Sofia, do cão que vomitava, do Mogli, meu querido e adorado Mogli, do pinhal - casa das nossas brincadeiras -, das bolotas e dos bugalhos.
Quando for rica vou comprar um pinhal só pra mim. Vou povoá-lo de bolotas e bugalhos e vou convidar o Mogli pra viver comigo outra vez. Sim, é mesmo isso que eu vou fazer.  

Who am I? No on special.
Just Call me Alice!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Desta correria boa

Estes têm sido uns dias grandes, cheios, carregados de adrenalina. Muita hora de estudo, de planificação, de estruturação, de conclusão. Têm sido dias bons, cheios de vida, de movimento, de teclas, de música, de palavras, de correrias, de sobe e desce, de ruas, de gente, de horas, minutos e segundos de produção. Têm sido dias fantásticos. Dias de renovação, de esperança. De uma respiração renovada e recuperada. Têm sido dias de planos, de delineamento de estratégias, de apertos de mão, de celebração. Celebração de contratos, de amizades, de projetos, de telefonemas felizes.
Têm sido uns dias fantásticos e por apropriação, também eu estou fantástica, renovada, extasiada, feliz!


Call me Alice!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Me, myself and I - parte I

Me, myself and I - on the mirror

Não tenho o dom da palavra, mas valorizo-a enormemente.
Não gosto de me despedir com beijos ou beijinhos só porque sim, porque todos o fazem. Quando beijo é porque quero mesmo. Quando não quero, despeço-me com um movimento circular de mão, um “aceno circular” – imagem de marca.
Sou tímida, insegura, envergonhada e o meus outros eus vou-os mostrando quando me sinto confiante.
Sou marota, brincalhona, palhaça, macaquita.
Entorno copos.
Demasiado responsável.
Não anseio grandes bens materiais porque não me fazem feliz.
Não sou apologista de amor e uma cabana, mas os alicerces de uma casa são os afetos.
Amor não é só apalavrado, é gesto, atitude, carinho espontâneo.
Fico sem ação perante um elogio, dificuldade que tenho vindo a aprender a contornar.
Ainda coro.
Tenho cócegas.
Sou muito distraída.
O mar é meu confidente. Procuro-o cada vez mais quando preciso de paz ou de meditar. Ou simplesmente estar comigo.
Gosto da liberdade das ondas, mas tenho medo delas.
Adoro o frio, o vento, a água. Espaços abertos, folhas.
Relaciono-me pessimamente com a mentira.
Bacalhau é um alimento sempre bem vindo à minha mesa. Qualquer que seja a guarnição ou a ocasião.
Uma das minhas palavras favoritas é sabedoria.
Se um dia for mãe, gostava de ser de uma menina e dar-lhe o nome de Clara. Já sonhei em ser mãe de um menino, Zé Pedro mas a vida mostrou-me que não ia conseguir mudar homem nenhum, muito menos o rebento.
Gosto de flores campestres, campos floridos, florestas, mas tenho medo da maior parte dos bichos.
Só me entrego a um homem quando me sinto amada.
Detesto filmes de terror, vejo-os com o coração aos pulos.
Sou medricas.
E friorenta.
Gosto de cães.
A bondade no rosto é uma das coisas que mais gosto de ver nas pessoas.
Gosto de balancés.... de andar descalça... de sussurrar... de entrelaçar as pernas com o meu amor... Gosto do aconchego do peito de um homem... que me façam festas no cabelo.
Uma das minhas maiores qualidades é saber colocar-me no lugar dos outros, o que me faz ser excessivamente tolerante.
Dou regularmente o benefício da dúvida. Não me livro das críticas inerentes a tal, o ser apelidada de "politicamente correta" ou pior e que me deixa extremamente magoada: “falsa”, “falsa moralista”...
Continuo a acreditar nas pessoas até prova em contrário, apesar de algumas desilusões bem dolorosas.
Detesto sofrer... envelhecer... odeio as dores nos ossos.
Tenho amigos de todas as idades... fico enternecida quando me procuram para os confortar.
Dualidade coração/razão é comigo.
Dança, cinema, teatro, literatura estão-me no ADN.
Amo tertúlias.
Gosto de surpreender com miminhos e carinhos.
Com a idade tornei-me mais desorganizada. E impaciente.
Os desafios dão-me medo, mas também vontade férrea de os ultrapassar.
A vida fez de mim desconfiada.
Continuo romântica.
Sonho poder viajar. Muito.
Tenho um bom radar para descobrir amigos. E gente má também.
Admiro as pessoas que fazem parte da minha vida, mesmo que algumas estejam  presentes apenas virtualmente.
Sou dedicada.
Confiança é fundamental para mim.
Quero acreditar que só tenho pitadas de ciúmes perfeitamente controláveis.
Encanto-me perante uma boa escrita e excelente sentido de humor.
Emociono-me com trailers de cinema.
Dançar é um prazer desmedido.
Lido mal com as minhas falhas.
Tenho uns pés lindos. :)
Sou perfeccionista.
Detesto arranjinhos.
Sinto-me gata enjaulada quando me sinto pressionada para fazer algo que não quero.
Não acredito em amor à primeira vista mas sim em atração à primeira vista. Reparo nos olhos, na voz, nas mãos... nas pernas :)
Mas é o que falam e como falam que me desperta  atenção redobrada.
Uma grande parte das minhas amigas vive longe. Odeio esse facto e a logística insana a que um simples encontro obriga.
Detesto insolência, arrogância e pedantismo.
Sou discreta.
Sonho com viagens aos Açores, Fiordes, Austrália, Costa Rica e Nova Zelândia.
Adoraria ter sido atriz.
Acho extremamente sedutor um homem que gingue bem.
Alegro-me com a felicidade dos outros, principalmente os amigos.
Entristeço-me com as tristezas dos outros, principalmente os amigos.
Eu e as decisões temos uma relação de amor/medo.
Adoro fotografia e fotografar.
Adoro comprar livros mesmo sabendo que não os vou ler imediatamente. Seria compradora compulsiva se o meu bolso o permitisse.
Não aprecio prendas impessoais. Gosto de as oferecer pensadas e sentidas e ver a reação de quando as abrem. E gosto de as receber pensadas e sentidas.
Gosto do abraço. Aquele abraço terno e carinhoso. Não o abraço “aperta esqueleto”.
Sou lamechas.
Melindro facilmente.
Sou psicologicamente reativa.

Sou eu. E sou... E sou... E sou... todos os dias sou.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Porque escrevo?

- Porque é que escreves aquelas coisas? - perguntas tu...
- Deixa pra lá - respondo eu corada de vergonha porque alguém decifrou aquilo que eu costumo ocultar.
A grande Lídia Jorge afirmou uma vez que «essa é a única pergunta a que não se pode responder com sinceridade.» Eu acrescento: «Escrevo por variadas razões.» E parafraseando Phillip Roth, «Precisaria de uma vida inteira para responder.» Eis algumas das múltiplas explicações:
- Escrevo porque a escrita me permite exorcizar todos os sentimentos que habitam cá dentro, os bons e os maus. Abre-me a porta a um nível de comunicação maior do que aquele que limita o meu aparelho fonador, ou seja, permite-me dizer aquilo que não consigo verbalizar. 
- Escrevo porque me sinto à vontade com o papel e as letras, os meus melhores amigos.
- Escrevo porque me ajuda a construir o pensamento; a desconstruir ideias erradas, a cozinhar ideias novas.
- Escrevo, principalmente, pra não ter de mentir. Mentir-me a mim e aos outros. Porque uma das piores características do ser humano é a capacidade de mentir e arrastar para a lama toda a beleza e confiança depositadas em si pelo outro. Todos mentimos, invariavelmente já todos mentimos. Muito ou pouco, uma mentirinha inofensiva ou uma mentira gigantesca, já todos o fizemos. A maior parte das vezes pela incapacidade de lidar com as consequências da verdade. Por isso escrevo.
Escrevo por isto e muito mais. Escrevo porque gosto, escrevo porque preciso. Por todas estas razões e muitas mais. 

Who am I? Just call me Alice!


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Da complexidade das mentes...

[Em jeito de desabafo...]

Pronto. Tinha de estragar tudo... 
Tanto tempo à espera. Semanas de uma ânsia gigantesca e quando tudo começa, pimba! Tinha de estragar tudo. Eh pá, é que isto até pra mim é impossível. Nem eu posso comigo, já.
É um sentimento de insegurança, de incerteza, de incapacidade, brutais. Castram-me a vontade, e engolem-me por completo. 
Busco fazer tudo e ainda mais alguma coisa. Refugio-me na comida. Ocupo o pensamento com trezentos milhões de afazeres mas nenhum deles grita mais alto do que aquele que é realmente importante e premente. 
Mas porque é que eu sou assim? Arre, que é difícil até pra mim, aturar-me!
Sempre o medo, a insegurança a estragar tudo. 
Por mais que me obrigue a mudar, a alterar hábitos e rotinas, não consigo suprir esta falha. Mas porquê?
A ansiedade é tanta que me aperta o pescoço e sufoca a passagem do ar. Tenho vontade de a sacudir mas a verdade é que continua aqui, de garras presas na minha pele. Arranha-me os sonhos com as unhas. Pro favor, vai! Sai daqui! Não sei que mais faça pra tirar daqui. Já lhe ordenei que fosse embora mas é teimosa, muuuuito teimosa, talvez por ser produto do meu ser e das minhas inseguranças. Talvez...

Vou tentar fazer mais uma tentativa, que espero seja de sucesso. A ver vamos!

Call me Alice!



domingo, 27 de outubro de 2013

Pedagogia do deslumbramento

Deus ensinou-me com a Pedagogia do Deslumbramento
e eu Maravilhei-me.
As pessoas passam o tempo a tentar desdeslumbrar tudo e todos:
matam-me a ingenuidade que me faz Apaixonar.
A maioria dos professores,
principalmente os universitários,
só conseguiram desmaravilhar-me,
matar a minha curiosidade.
Porque quase ninguém se maravilha com as coisas à volta?
Principalmente com as mais “insignificantes”?!,  
Luísa Dacosta, in NM
*Demasiado belo pra ser deixado na gaveta.

Call me Alice!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dos dias que se somam

23 de outubro de 2013
1h57 pm

Tenho tido dias melhores. Estes têm sido dias melhores. Dias mais descontraídos em que tenho conseguido aproveitar uma ou duas horas sem pensar na ameaça que me aflige.
Está ainda tudo gelado lá fora. O inverno continua em toda a sua pujança. Da janela consigo ver alguns raios de sol que rasgam por entre as pesadas nuvens mas continuo com medo de abrir a porta. Tenho medo de abrir a porta e dar de frente com um muro ou uma parede gelada que me impeçam de sair e seguir a estrada que serpenteia, sinuosa, por entre o vale gelado. 
A ameaça permanece lá fora e eu tenho medo que ela esteja à espreita. À espera que eu abra a porta, à espera de um momento de fraqueza pra poder entrar.
Tenho medo que ela entre e a ameaça se torne real. Tenho medo que a brisa que corre lá fora e vai afastando as nuvens me entre pela porta e se transforme no lobo mau que irá devorar a minha vida e destruir a minha paz.
Cá dentro, o meu amor dorme. Dorme o sono dos justos, dos esforçados. Adoro vê-lo dormir. Tão calmo e tão sereno. Dorme meu amor, que eu estou de guarda.
[Tenho medo que me falhem as forças e eu adormeça de exaustão]. 
Mas nada temas meu amor, enquanto eu tiver forças, não os deixo entrar. O meu coração e a minha razão são o meu escudo. O meu elmo e a minha espada.
Dorme bem, meu amor. Eu estou aqui. Eu continuo aqui.




domingo, 20 de outubro de 2013

Do barulho que vai cá dentro

Sempre fui conhecida por ser extremamente calada. Tímida. Pois, nem pouco mais ou menos. O problema reside no facto de que sempre gostei mais de ouvir do que falar. Prefiro considerar-me introspetiva, vá... Além disso, tenho dificuldade em confiar nas pessoas e em dar-me a conhecer verdadeiramente. A maior parte do tempo uso a máscara da pessoa que acho que os outros pensam que sou. Só ao fim de muito tempo mostro realmente o que cá vai dentro, o que gosto eu mesma, o que detesto, o que penso. E isto às vezes causa uma certa confusão, uma triste desilusão ou um delicado afastamento. Já aconteceu de tudo...
Para além deste triste cenário, desde adolescente que tenho a certeza que não tenho nada de interessante para dizer aos outros. Não tenho nada de novo para acrescentar ao que foi dito que seja realmente importante e digno de nota. Não tenho.
As pessoas não entendem este estado de espírito e provavelmente acreditam que estou ali por obrigação ou porque não tenho nada mais interessante para fazer. Talvez a minha postura corporal evidencie um estado de espírito que não corresponde à realidade. Prefiro milhões de vezes estar calada, sem um único pio e conseguir absorver tudo aquilo que é dito, o bom e o mau e conjeturar interiormente sobre aquilo que foi dito, ou vomitado em alguns casos. Além disso, cá dentro já somos muitos. Somos imensos. Tenho montes de pessoas cá dentro com quem conversar, discutir, desabafar. Somos já demasiados pra que eu consiga verbalizar muito mais do que o indispensável com o mundo exterior, com quem é externo a mim e à minha consciência. Cá dentro já somos muitos. Sou eu e eles. Somos muitos e um só e isso, acreditem, já me consome muita energia. Ando sempre cansada à conta destes diálogos internos. São milhões e milhões de sinapses que me consomem a energia que uma dieta pobre em hidratos de carbono me fornece. Vai daí que, não tenho tempo nem paciência para discussões infundadas, vazias de sentidos, opacas. Enfim... senhores, concentrem-se no óbvio, no necessário, no realmente importante. Não se ponham com disputas tolas, ilógicas e irracionais. O dia é demasiado pequeno, a vida é demasiado curta pra ser perdida em discussões parvas e pior, finalizadas com conclusões quadradas, pequeninas, patéticas. Que só me levam à certeza cada vez maior de que calada é que eu estou bem.

E depois há uma outra razão, calada e que raramente ousa verbalizar seja o que for. A razão mais problemática de todas e que me leva a voz quando dela necessito. Um problema maior do que perder imenso tempo a pensar no que dizer. O MEDO. Medo de magoar os outros com aquilo que vou dizer. Medo que as minhas palavras sejam como espadas que cortam a carne e rasgam a confiança que o outro tem em mim. Medo de desiludir. Medo de enfrentar a realidade, acima de tudo. Medo de enfrentar o problema. Medo do elefante que se instala na sala e no meio de nós quando eu ouso permitir que o meu problema saia da minha cabeça e ganhe voz. Deixa de ser mais um eu e passa a ser um nós. Uma realidade que não me consome só a mim, que nos consome aos dois. E isso mata-me mais do que mil facas. Magoa-me mais do que mil pedras. Espreme-me o coração e a alma. Porém, chega uma altura em que não aguento mais, em que tenho de falar e contar o que aquele eu me fez, nos fez, nos fizeram. Chiça que é difícil. E aí, chega a fase das acusações, da atribuição de culpas e da procura de uma solução.
És forte, bem mais forte do que eu e isso dá-me força pra levantar a cabeça, perder a vergonha e seguir em frente. Seguimos juntos, de mãos dadas. E é nessa altura que aquelas muitas pessoas dentro de mim tiram férias e me dão paz. E passamos a ser só nós os dois. E isso sabe-me muito bem. 
E por agora é só mesmo disso que eu preciso.

Call me Alice!


terça-feira, 15 de outubro de 2013

A mulher sonha, a obra nasce!


A mulher sonha e a obra nasce.

Mariana escreve o seu livro de receitas cozinhadas no coração e preparadas no fogão.

Para cada ocasião, Mariana prepara uma iguaria e a cada uma delas atribui o nome da pessoa, da ocasião, da situação, que lhe deu razão de ser.

Tudo isto em busca das 6000 palavras...

Serão certamente muitas receitas, muitas histórias, muitas personagens, muita confusão. Muitos mal-entendidos, muitos sentimentos contraditórios, muitas injustiças e muitos triunfos, muitas vitórias. Porque é assim que deve ser. É assim que eu quero que seja. É assim que eu gosto.

Bora lá pró fogão! 

Call me Alice!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cultivo do umbigo

Creio que hoje em dia assistimos a um novo boom. Não um baby boom, antes fosse. Não um boom ideológico, criativo, produtivo. Nada disso. Creio que assistimos a um verdadeiro boom umbilical. Sim, umbilical, de umbigo. Parece-me que vivemos na era do cultivo do umbigo. Cada umbigo é maior que o do próximo e o meu umbigo é deveras mais importante que o teu.
Ai de ti que ouses vitimizar-te à minha frente. Não sabes do que te falas. Os meus problemas são bem mais graves que os teus. A minha vida é bem mais desgraçada que a tua. O meu salário é bem menor que o teu. As minhas roupas não são de marca como as tuas. O meu carro é já da idade da pré-história. E blá-blá-blá... Resumindo, eu estou sempre pior do que tu. Cala-te lá, que eu estou bem pior do que tu.
Os sintomas observáveis desta nova tendência (cultivo do umbigo) são a intolerância, a impaciência, o extremo individualismo. O vociferar palavrões a toda a hora. O olhar para o lado e fazer de conta que não se vê, pelo menos três vezes ao dia. E, observado já nos casos mais graves, ignorar peremptoriamente o pedido de ajuda do outro que se encontra já em fase financeira terminal. Cruzes! Sai pra lá, pobre!
Esta nova tendência (que antes da dita crise financeira que vivemos era muito mais dissimulada) tende a proliferar em todos os círculos sociais, financeiros e até familiares. 
Aparece em qualquer esquina, sinal de trânsito, supermercado ou elevador. Os afetados parecem agora beneficiar da desculpa para serem extremamente mal educados a toda a hora e com quem quer que seja. Já não olham a meios para atingirem os seus fins. 
Os danos colaterais desta possível pandemia são enormes e irão sentir-se durante décadas.
Os nascidos deste boom terão sérias dificuldades em conseguir distinguir o certo do errado, o desculpável do indesculpável, o aceitável do inaceitável. 
Conceitos como solidariedade, entreajuda, companheirismo, cavalheirismo, respeito, farão parte do dicionário pré-acordo. Aquele dicionário altamente retrógrado que já ninguém utiliza.
Perante este cenário pandémico, a mim apetece-me fugir pró meio do monte, procurar uma ermida, de preferência uma caverna e construir uma espécie de bunker à prova de maldade e falta de respeito.
Ainda vou pesquisar a ver se é possível ficar imune a esta doença. Este belly boom, que tudo permite e tudo justifica.
Se alguém souber de que forma o posso fazer, por favor, não olhem só para o vosso umbigo, olhem também para o meu, porque apesar de se encontrar localizado numa espécie de protuberância abdominal, é ainda pequeno. Obrigada.

Call me Alice!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Que seja agora!

Tem que ser agora!
Sinto que o tempo urge e se não for agora nunca mais será.
Chegou a hora de me fazer a vontade, a mim e aos meus impulsos egoístas, egocêntricos e ego-maníacos. Que seja. Chegou a hora.
É tanta a vontade de escrever que me sinto sufocar. São tantas as ideias que me sinto atrapalhar nos pensamentos, situações, cenários, contextos e personagens. Os dedos parecem não ser suficientes para acompanhar a alegoria de situações que me passam diante dos olhos. É tal a sofreguidão pela escrita que as palavras me parecem falhar. Após meses de escassez crítica e criativa parece-me que o vocabulário se escoou pelo buraquinho da varanda com as primeiras chuvas.
A insegurança é cada vez maior e sinto-a engolir-me em toda a sua plenitude e arrogância. 
A crítica suga-me o impulso de escrever, pois receio até às entranhas não ser bem sucedida, não ser bem compreendida. 
Temo não fazer jus às lindas histórias que formulo dentro da cabeça e cozinho junto ao coração.
Pobre de mim. Pobre diaba a quem não podem dar uma réstia de esperança que logo a transforma num projeto de vida, no mínimo, num plano de sucesso para muitos meses.
A leitura e a escrita surgem na minha vida como amores primeiro e último. São o meu refúgio, a minha casa, a minha tentação, a minha desgraça. 
Anseio pelo momento em que me sento em frente ao computador e os cozinhados que andei a formular durante meses começam a ganhar cor, cheiro e sabor. Este é um momento mágico, um momento lindo que me enche o coração de sonho, de alegria e de esperança. Comove-me pensar que escrevo e porque escrevo. Escrevo para mim, escrevo para os outros mas sobretudo, escrevo por mim. Sim, agora escrevo por mim e para mim. Se aos outros agradar, tanto melhor. Não escrevo pela sede de ganho, de proveito monetário. Escrevo porque amo de paixão as palavras, as personagens, os cenários e as situações, que aqui são facilmente resolvidas.
Por isso, e mesmo sentindo-me esmagada e completamente "trocidada" por uma insegurança que me desmembra lenta e profundamente, escrevo. Vou continuar a escrever, a sentir as palavras à minha maneira, da minha maneira, por mais confusa e torta que seja. Vou continuar. Tem de ser agora. 
Call me Alice!


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quando a depressão ganha voz

"Esta é sem dúvida, uma das fases mais complicadas da minha vida. A que está a demorar mais tempo a passar. A que está a ocupar mais o meu pensamento e a toldar a minha maneira de ser e de ver o mundo, as pessoas e as coisas. A que está a deixar mais marcas. Aquela que começa já a prejudicar a minha vida pessoal e profissional.
Sinto-me cada vez mais só e mais isolada. 
A casa que outrora ansiava frequentar e organizar e cuidar, começa agora a revelar-se um ninho de sombras, angústias e tristezas e eu começo a detestar a minha casa e as minhas coisas e os meus cantos e os objetos que cuidava com todo o amor e que contavam a minha história e a da minha pessoa. 
Essa pessoa que sempre me amou mais do que eu merecia. E sempre me perdoou e sempre me acompanhou e sempre me apoiou e sempre se orgulhou dos meus feitos e das minhas conquistas por mais minúsculas que fossem. Essa pessoa começa já a olhar para mim com outros olhos. Com os olhos de quem não compreende porque não lavo o selvagem do cabelo há tanto tempo, porque passo tanto tempo de pijama ou porque já não me apetece comer. 
Adorava comer, apreciava um bom vinho, idolatrava o pão (e por isso andava sempre de dieta). Mas ele não se importava. Era sinal que gostava de mim e dele e me preocupava com a minha imagem. 
Agora olha para mim com um olhar de compreensão forçada, sempre na expectativa de que acorde desta dormência em que me encontro.
Consigo perceber isso claramente naqueles olhos que conheço de cor. Sinto-me fugir. Desaparecer na imensidão dos dias.
Sempre fui uma pessoa de sonhos. Sempre vivi de sonhos, de planos, de esperança, de otimismo. Agora os sonhos fogem-me por entre os dedos finos e parece que não há nada que eu possa fazer.
Eu sei que há sempre algo que eu possa fazer para contrariar esta desvontade, este desalento.
Sei exatamente o que posso fazer mas falta-me a vontade, a coragem, a força, a tenacidade e a teimosia de outrora.

É por isso que hoje abro a janela e grito lá para fora: "Já chega!" Abro as portadas, deixo entrar o ar e a luz do Sol. Ligo o pc e resolvo dar uma nova oportunidade a mim própria.
Vou à luta. E seja o que Deus quiser!"
Call me Alice!

Já quase me esqueci de ti...

Já quase me esqueci de ti!
Já quase me esqueci. Mas porque é tão difícil este quase? Por que raio continuo a procurar-te? A lembrar-te? A sentir-te? A sonhar-te?
Amor, moras em mim. Já uma vez o escreveste e esta frase continua a fazer eco na minha memória ao fim de tanto tempo.
Amor, moras em mim. Continuas entranhado na minha pele, nos meus lábios, no vale do meu queixo, nas minhas lembranças, nas minhas recordações. Estou sedenta das tuas palavras carinhosas que quero acreditar serem verdadeiras. Sonho com os longos abraços e as infinitas conversas que faziam o tempo e a vida parar lá fora. Ainda sinto o teu cheiro por toda a parte.
Não consigo livrar-me de ti. Não sei que faça pra conseguir arrancar-te de mim. Não sei como ordenar à razão que pare de lembrar e ao coração que pare de sentir. 
Odeio-te. Odeio-te por tudo aquilo que ainda representas pra mim. Odeio-te porque me fizeste mal. Odeio-te porque me desiludiste. Odeio-te porque me abandonaste. Odeio-te mais do que te amo. Amo-te mais do que queria.
Os dias continuam trágicos, pesados e desinteressantes. Demasiado lembrados, ainda.
Fujo, mas a distância não apaga a estrada que me leva até ti. Os quilómetros somam-se ao mesmo ritmo que se soma a saudade. 
Mas já quase me esqueci de ti.
Continuo a lembrar-me que foste o meu tudo e o meu nada. O meu certo e o meu muito errado. O meu sol e a minha chuva. A enorme alegria e a profunda tristeza. O sonho e a desilusão. O príncipe e o sapo.
O sentimento que prevalece nos dias mais soalheiros é apenas uma muito lisonjeira desilusão, disfarçada pela ilusão de que um dia volte a ser. Que um dia volte tudo a acontecer. Que um dia volte a sentir o meu "Era uma vez". Não me canso de o pedir, silenciosamente, de forma muda e mascarada.
No espelho que habita por trás dos meus olhos, estás tu. Continuas tu. E eu recrimino-me por isso. Auto-flagelo-me procurando relembrar todo o mal que me fizeste, todas as palavras que feriram e rasgaram o meu orgulho, a minha vaidade. Procuro, mais uma vez, as razões que me fizeram afastar de ti. Afasto-me mas não consigo ficar longe de ti e daquilo que fomos.
Amor, ainda moras em mim e não consigo tirar-te de cá. Não sei o que fazer. Não sei como fazer. 
Odeio-te mais do que te amo. Amo-te mais do que devia. Odeio-me por isso.
Quero odiar-te para sempre. Esquecer-me de ti. 
Parece que me lançaste um feitiço. Peço-te, por favor, dá-me o antídoto. Deixa-me viver. Deixa-me ser. Deixa-me sair e seguir o meu caminho. Não quero que me fales. 
Não quero que me escrevas. És a minha doença. E a minha cura. 
Amor, moras em mim. Mas eu quero que vás embora. Por favor, vai embora. E fecha a porta atrás de ti.

Call me Alice!