Tomara eu o dom da clarividência e antever claramente este dia.
Quisera eu ser meta-humana e poder transportar-me no tempo, pelo tempo, até ao tempo de sala de aula. O tempo de Professora que olhava os alunos com pestanas de sol e luar, sorriso de papoilas e gordas gerberas, coração de pássaro. E eu, aluna, me deslumbrava. Sorvendo avidamente aquele ser, gigante, que desejava ser meu.
Vejo-me sempre atrasada. Atrasada no tempo, retardada pelo tempo.
Quem me dera ser a aluna da professora guardadora de rebanhos. Quem me dera ter-te lido mais cedo e aprendido que podemos ser, apenas ser. Sendo sempre o que quisermos e enquanto quisermos.
Quem me dera conversássemos, discutíssemos, partilhássemos.
Pudesse eu mostrar-te que te sigo as pisadas, ainda que em leves passos.
Quem me dera não estivesse atrasada, nesses tempos nossos, tão diferentes. Sempre retardada pelo meu tempo interior, muito mais lento que o exterior. Aquele que galopa as horas e puxa a manhã seguinte.
Quem me dera ter adquirido a clarividência que apenas a passagem do tempo vai conferindo, para gerir melhor o nosso tempo.
Quem me dera ter já terminado e conseguido mostrar-te aquilo que tenho feito. Dizer-te que te sinto na pele, na vontade, na voz, na sala de aula. Quem me dera ter conseguido mostrar-te que te sigo e me orientas, coração de pássaro, na divina arte de deslumbrar.
Quem me dera ter tido o tempo largo para te mostrar que já fui também eleita, membro honorário desta preciosa e retumbante Pedagogia do Deslumbramento.
Quem me dera o Tempo desse mais tempo a este nosso tempo.
Pelos meus olhos navega um mar de pena. A minha alma chora esta passagem do Tempo, os desencantos na dinâmica do tempo; a falta; o desconhecimento; os desencontros; a inexperiência; o desejo de ser, de crer, de crescer. Para sempre.
Serei eu capaz de te continuar? De inserir o tu no eu? O nós no todo? De conjugar o verbo com a mesma força, o mesmo amor?
Resta-me sonhar. Esforçar-me por continuar entre mundos. Maravilhar e maravilhar-me. Tentando sempre encontrar(-me).
Até sempre e para sempre, querida Luísa!