quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Dias assim

4:30 h - Acordo
 
5:20 h - Saio de casa rumo a mais uma viagem
 
9:30 h - Reunião
 
14:00 h - Formação
 
19:00 h - Jantar com as colegas
 
Há dias que são efetivamente longos. Mais compridos e atarefados que todos os outros.
Se não, vejamos:
Hoje, depois de 2:30 de viagem de comboio + 1 h de viagem até à Escola, seguidas de 3 horas e meia de reunião + 5 horas de formação e 1 jantar com as colegas na Terrugem = ?
= a um dia de 20 horas non stop.

E depois de desejar chegar a casa desde que saí de casa, estou aqui, à espera que a água do cilindro aqueça e eu possa tomar aquele banho quentinho que sinto merecer.
 
Conclusão [em modo repeat]: Há dias que são efetivamente longos. Mais compridos e atarefados que todos os outros.
Há dias de longas horas e noites de curtos sonos. Há dias assim.

Alice!
 




terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Desejo de intemporalidade

Tomara eu o dom da clarividência e antever claramente este dia.
Quisera eu ser meta-humana e poder transportar-me no tempo, pelo tempo, até ao tempo de sala de aula. O tempo de Professora que olhava os alunos com pestanas de sol e luar, sorriso de papoilas e gordas gerberas, coração de pássaro. E eu, aluna, me deslumbrava. Sorvendo avidamente aquele ser, gigante, que desejava ser meu.
Vejo-me sempre atrasada. Atrasada no tempo, retardada pelo tempo.
Quem me dera ser a aluna da professora guardadora de rebanhos. Quem me dera ter-te lido mais cedo e aprendido que podemos ser, apenas ser. Sendo sempre o que quisermos e enquanto quisermos.
Quem me dera conversássemos, discutíssemos, partilhássemos.
Pudesse eu mostrar-te que te sigo as pisadas, ainda que em leves passos.
Quem me dera não estivesse atrasada, nesses tempos nossos, tão diferentes. Sempre retardada pelo meu tempo interior, muito mais lento que o exterior. Aquele que galopa as horas e puxa a manhã seguinte.
Quem me dera ter adquirido a clarividência que apenas a passagem do tempo vai conferindo, para gerir melhor o nosso tempo.
Quem me dera ter já terminado e conseguido mostrar-te aquilo que tenho feito. Dizer-te que te sinto na pele, na vontade, na voz, na sala de aula. Quem me dera ter conseguido mostrar-te que te sigo e me orientas, coração de pássaro, na divina arte de deslumbrar.
Quem me dera ter tido o tempo largo para te mostrar que já fui também eleita, membro honorário desta preciosa e retumbante Pedagogia do Deslumbramento.
Quem me dera o Tempo desse mais tempo a este nosso tempo.
Pelos meus olhos navega um mar de pena. A minha alma chora esta passagem do Tempo, os desencantos na dinâmica do tempo; a falta; o desconhecimento; os desencontros; a inexperiência; o desejo de ser, de crer, de crescer. Para sempre.
Serei eu capaz de te continuar? De inserir o tu no eu? O nós no todo? De conjugar o verbo com a mesma força, o mesmo amor?
Resta-me sonhar. Esforçar-me por continuar entre mundos. Maravilhar e maravilhar-me. Tentando sempre encontrar(-me).
 
Até sempre e para sempre, querida Luísa!

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A casa

Todos os dias pela manhã, ia à janela do meu quarto e ficava a olhar uma casinha amorosa nas traseiras do meu prédio e ficava a sonhar com ela. Sonhava aluga-la e desenvolver lá todas as pedagogias que vivem em mim. Aplicar e animar todas as Luísas Dacosta, todos os Gaston Bachelard, todos os Georges Jean, todas as Maria Montessori, todos os Rubem Alves, todos os Paulo Freire, todos os Nisas, todas as pedagogias Waldorf que vivem em mim. Aproveitar aquele palmo de terra e cultivar, estudando cientificamente todos os processos de crescimento, todas as poções mágicas gérmen de vida, que a Natureza nos oferece. Todos os dias me via ali, a abrir a porta do meu tamanho e a única janela à luz matutina, esperando ansiosamente todas as mentes inquietas que me quisessem escutar, que comigo quisessem aprender. Em suma, as mentes que me iriam fazer aprender, ensinando.
Pratiquei esse ritual utópico durante oito anos.
Agora, já não vou à janela. Agora, a casa está ocupada. Agora a certeza de uma vida preenchida com sonhos de algodão doce e biscoitos de alfazema foi derrubada. Os sonhos transformaram-se em nevoeiro que vou sentindo aqui e além. Os frasquinhos de estrelas foram quebrados e todas elas voaram. Encontro-as saudosamente, sempre que me atrevo a olhar para cima. Comovo-me e conforto-me nas noites de céu estrelado, pois sei que elas continuam lá, à espera que as resgate de novo.
Apanho os caquinhos do frasquinho. Tento colá-los. Processo que temo demorar anos. Mas não desisto. A Luísa não me deixa desistir. O Rubem pica-me com penas de falcão, não me deixando esquecer que o melhor está cá dentro, aquele melhor que só os olhos interiores, aqueles mesmos especiais e feitos de todas as cores nos deixam ver. A Maria lê-me os desejos, assegurando-me que a cientificidade da Natureza continuará em cada pétala, em cada espinho, em cada folha caída. A Pedagogia ainda não morreu. Passou apenas para outro plano.
As estrelas não desapareceram, estão apenas mais longe. A casa não foi derrubada, foi sim, ocupada. Janelas existem muitas, mas nenhuma como aquela.
Encontrarei outra casa, tenho a certeza. Cultivarei muitos solos. Colherei muitas flores e milhares de frutos. Espalharei de novo as sementes e esperarei pacientemente que se desenvolvam e se espalhem por aí. Nutrirei todas elas com o mesmo olhar deslumbrado que Gaston me autorizou a ter. Voltarei de novo à Luísa. Continuarei sempre a cumprir a sua palavra, a palavra que acredito ser todo o Verbo. Ensinarei e aprenderei, porque só ensinando se continuará a aprender.
 
Alice!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Das minhas gajas II

Hoje sinto-me na obrigação, ainda que em nada se tenha imposto como obrigatória, de falar de uma das minhas gajas.
 
Sei que volta e meia venho aqui falar sobre elas e hoje é claramente um desses dias. E como este continua a ser o espaço privilegiado para o fazer, impõe-se que o faça.
 
Hoje apetece-me falar sobre a Liliana, Lilas para os amigos.
 
A Liliana foi uma das poucas boas amigas que a intrincada vida laboral me trouxe.
 
Conhecemo-nos ainda na faculdade, se bem que nessa altura tivéssemos pouco contacto. A nossa amizade começou a ser construída já em plena prática letiva, experimentando alegrias e agruras a pares. E que bela parceria fizemos. Acho que o nosso único falhanço está mesmo na gelatina que não solidificou...
 
A Liliana é assim daquelas moças altamente misteriosas, sérias, responsáveis e com altos muros edificados. Contudo, assim que uma brechazinha de luz se abre, vislumbra-se um enorme e generoso coração. Um sorriso rasgado e um humor que nos faz rir durante horas.
Uma inteligente e acutilante visão de raio-x que nos faz confiar e querer ser amiga dela no primeiro minuto. Altamente viajada, culta, mas ininterruptamente humilde e solidária.
 
A Liliana é assim uma espécie de matrioska. À medida que a vamos explorando, vamos ficando cada vez mais surpreendidos e encantados.
 
A Liliana é aquele tipo [altamente ameaçado de extinção] de amiga que nos envia materiais constantemente, apesar de raramente retribuirmos o gesto [sim, sou uma parva...]
 
E por esse motivo, e por todos os outros que não vou aqui enumerar já que se encontram em segredo de justiça, cumpre-me agradecer genuinamente a presença, a lembrança, o contínuo não-esquecimento.

Por isso, miss jeitosa, muito obrigada!
Obrigada pela paciência infinita.
Obrigada pelos sempre renovados convites.
Obrigada por não te esqueceres de mim.
Obrigada por estares sempre aí quando eu preciso.
Obrigada por preencheres os espaços vazios das noites frias.
Obrigada por estares sempre à distância de um telefonema, ou de um chat.
Obrigada por nunca me deixares ficar mal.
Obrigada pelos valores que orientam a tua viagem.
Obrigada por me manteres parte integrante da tua lista.
Obrigada por ainda me fazeres escolha.
Obrigada por seres uma das cores do meu arco-íris.