sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Catorze anos

Catorze anos nos separam.
Catorze anos depois regresso ao lugar onde tudo começou...
Não deixa de ser curioso o mesmo friozinho na barriga, a mesma avalanche de expectativas, os mesmos receios... Enfim. Nunca mais cresço. 
E catorze anos depois, continuo a mesma menina que há catorze anos atrás pisou o solo do AEVD.

Vai ser bonito!


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Spot

Quando precisarem muito, mas mesmo muito de mim e não me conseguirem encontrar, estou aqui:




Sofás... e livros

Eram dois escritores. Ele, afamadíssimo. Ela, completamente anónima. Estavam sentados num sofá. Ele lia um esboço que ela escrevinhara. Ela não tirava os olhos dele enquanto o fazia. Não sei se o admirava, se estava apenas expectante em relação ao seu parecer.
Ambos apaixonados um pelo outro. E pela escrita.


quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Chrysanthemum

Nesta demanda de procurar ter uma vida mais preenchida, que valha a pena ser vivida, mais feliz em última instância, tenho dado por mim na feira. É sabido que eu adoro ir à feira - ver aquela gente toda amontoada e em grandes alaridos, cheia de emigrantes saudosos (ou emproados!), preenchida em excesso de vida e cor provoca em mim uma sensação de bem estar e conforto que não consigo justificar. Adiante... Hoje, eu (freguesa assumidamente consumidora de flores) encontrei numa das bancas aquelas a que eu em pequena chamava "flores de papel". Não são nada flores de papel, são crisântemos - mas pela sua textura mais dura e resistente, pareciam-me feitas de papel velho, seco e duro. Enfim... tolices de uma infância sem nada pra fazer...
Assim que lhes pousei a vista, soube que tinha de as trazer. Apressei-me a escolher o molhe, sem sequer perguntar quanto custavam. Sabia apenas que tinham de ser minhas. Não porque fossem as mais bonitas ou perfumadas (não eram!), apenas porque me fazia falta há já muitos anos fazer uma coisa que eu fazia quando as encontrava no campo da minha avó - passar-lhes os dedos, como que a fazer um miminho, a "cuca" - o carinho - não interessa. O mais importante é que toda eu ansiava poder repetir aquele ritual. Uma ânsia inexplicável por voltar a sentir uma das sensações mais maravilhosas da minha infância. 
Aquele encontro dilacerou-me, mas ao mesmo tempo contemplou-me com a paz e a serenidade que eu vivia. Contudo, não foi embora sem me deixar a saudade. Saudade da minha vida de outrora, que apesar de ser mínima e cheia de ar, era maravilhosa. Saudade da minha avó. Saudade das horas de contemplação e enamoramento pelas flores dela. Muito eu gostava de fazer cuquinha nas flores - que doença! 
Hoje o raio da doença voltou, com a força, a brutalidade e o esplendor dos anos de abstinência. 
Enquanto pequena, toda a minha existência se circunscreveu à minha avó, à casa dela e a todos os afazeres que a preenchiam. Daí que agora, tantos anos mais tarde, sinta este ardor e este pulsar dentro de mim para reviver, ressentir e reescrever toda aquela vida em mim.
Sinto falta de mim. Não daquela menina tímida e insegura que eu era, mas da menina dócil, sonhadora, crente e muito ingénua que fui. Por incrível que pareça, e porque me esforço por ser diferente todos os dias (outras linhas do meu caminho se entrelaçaram), sinto falta de mim, de quem eu era. Sou diferente porque me obrigaram a ser diferente, não porque eu goste ou prefira ser assim. Não gosto e por isso sinto falta de mim. Restam-me as lembranças, as doces memórias adoçadas com chocolate "Taxi" e polvilhadas de ternura.
Um dia, quando for mais velha e uma eremita de verdade, volto a encontrar a menina que cresceu com a avó, no meio de muitas panelas, linhas, agulhas e flores de papel. Tenho a certeza que sim.
Por agora, deixo-vos com um ramo deles, os crisântemos.