domingo, 15 de março de 2015

Do amor...

Há dias [meses], e no seguimento de uma conversa estupidamente prazerosa com um amigo, vimo-nos chegados à questão: O que é o amor?
Vimo-nos não. Deparei-me eu com a questão, já que foi ele o emissor de tal indagação.
Confesso que tive dificuldade em responder no momento. Não porque não saiba o que é o amor. Sei. Mas porque é uma teia tão complexa, carregada de avenidas, ruelas e veredas que tanto se revela forte e segura de si como logo se percebe uma falha, um fio que se solta e compromete todo um equilíbrio.
Desta teia, que se tece junto ao coração mas que se prolonga pelo cérebro, pelos olhos, pela boca, pela pele, fazem parte não só a aranha que a tece mas todos os seres que a mantêm, formando uma civilização por vezes pouco hierarquizada e caótica.
Existem teias mais fortes, claro está, construídas com estáveis e robustos alicerces. Pacífica e metodicamente projetadas a dois. Depois, outras há que nascem do desequilíbrio, do acaso, da feliz ou infeliz coincidência. Conseguem manter-se belas e brilhantes, mesmo nos dias de chuva. Aliás, é durante os dias de monção que elas se revelam mais bonitas e brilhantes que as outras. verdadeiros diamantes delapidados lenta e prodigiosamente. E por vezes, ainda se dá o caso de encontrarmos apenas restos daquelas que foram elegantes e vaidosas teias mas que se desvaneceram ao primeiro sopro dos dias mais ventosos.
Contudo, e porque somos seres demasiado complexos, as nossas teias também o são. Podia, por isso, estar aqui o dia todo a falar das inúmeras construções que se tecem em torno de um sentimento que nos é necessário, quer seja a dois, a três, a uma multidão. Cabe-nos saber gerir essa organização. É que, para além dos inúmeros seres que a desequilibram ou completam, devemos ainda falar dos diferentes tipos de amor que habitam as ruelas, as veredas e as principais avenidas da nossa teia. Para além do amor platónico, do amor carnal, do amor apaixonado que nos alimentam e motivam, ainda vivemos do amor fraterno, do amor à literatura, à dança, à música e a todas as formas de arte. Estes, que construímos ao longo dos muitos anos de formação pessoal  são aqueles tipos de amor que nos completam e nos orientam, a maior parte das vezes.
E a amizade, uma das mais belas e inocentes formas de amor? Sobre ela teceria todo um novo rosário, contudo, prefiro ir pousando as suas contas aqui e além.
 
O que me apetece realmente dizer, querido P. (e no seguimento de outra questão) é que, realmente acredito que podemos amar mais do que um, mais do que muitos. E que é legítimo e real esse sentimento por algo ou alguém. Sim, porque não? A nossa teia é demasiado complexa, o nosso coração demasiado grande. Sentimo-nos confusos, divididos, inseguros. Tememos errar e fazer as opções incorretas. Mas a vida não é mesmo isso?
Quem sou eu para dizer: arrisca? Não tenho essa força, falta-me a coragem e o medo tolhe-me a maior parte das vezes. Contudo, e como não faço parte da teia que me desenhaste no papel, posso e sinto-me no direito de te dizer, "Querido amigo, arrisca. Experimenta ser feliz. Não te percas em indecisões, dúvidas, medos, receios. A tua teia é tão complexa como qualquer outra. A chuva levou uma parte. Não entristeças, querido amigo. Com certeza estava podre e a precisar de novas linhas, novas avenidas e novos caminhos. Quem sabe onde estes te levarão?"
 
Alice