terça-feira, 29 de outubro de 2013

Da complexidade das mentes...

[Em jeito de desabafo...]

Pronto. Tinha de estragar tudo... 
Tanto tempo à espera. Semanas de uma ânsia gigantesca e quando tudo começa, pimba! Tinha de estragar tudo. Eh pá, é que isto até pra mim é impossível. Nem eu posso comigo, já.
É um sentimento de insegurança, de incerteza, de incapacidade, brutais. Castram-me a vontade, e engolem-me por completo. 
Busco fazer tudo e ainda mais alguma coisa. Refugio-me na comida. Ocupo o pensamento com trezentos milhões de afazeres mas nenhum deles grita mais alto do que aquele que é realmente importante e premente. 
Mas porque é que eu sou assim? Arre, que é difícil até pra mim, aturar-me!
Sempre o medo, a insegurança a estragar tudo. 
Por mais que me obrigue a mudar, a alterar hábitos e rotinas, não consigo suprir esta falha. Mas porquê?
A ansiedade é tanta que me aperta o pescoço e sufoca a passagem do ar. Tenho vontade de a sacudir mas a verdade é que continua aqui, de garras presas na minha pele. Arranha-me os sonhos com as unhas. Pro favor, vai! Sai daqui! Não sei que mais faça pra tirar daqui. Já lhe ordenei que fosse embora mas é teimosa, muuuuito teimosa, talvez por ser produto do meu ser e das minhas inseguranças. Talvez...

Vou tentar fazer mais uma tentativa, que espero seja de sucesso. A ver vamos!

Call me Alice!



domingo, 27 de outubro de 2013

Pedagogia do deslumbramento

Deus ensinou-me com a Pedagogia do Deslumbramento
e eu Maravilhei-me.
As pessoas passam o tempo a tentar desdeslumbrar tudo e todos:
matam-me a ingenuidade que me faz Apaixonar.
A maioria dos professores,
principalmente os universitários,
só conseguiram desmaravilhar-me,
matar a minha curiosidade.
Porque quase ninguém se maravilha com as coisas à volta?
Principalmente com as mais “insignificantes”?!,  
Luísa Dacosta, in NM
*Demasiado belo pra ser deixado na gaveta.

Call me Alice!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dos dias que se somam

23 de outubro de 2013
1h57 pm

Tenho tido dias melhores. Estes têm sido dias melhores. Dias mais descontraídos em que tenho conseguido aproveitar uma ou duas horas sem pensar na ameaça que me aflige.
Está ainda tudo gelado lá fora. O inverno continua em toda a sua pujança. Da janela consigo ver alguns raios de sol que rasgam por entre as pesadas nuvens mas continuo com medo de abrir a porta. Tenho medo de abrir a porta e dar de frente com um muro ou uma parede gelada que me impeçam de sair e seguir a estrada que serpenteia, sinuosa, por entre o vale gelado. 
A ameaça permanece lá fora e eu tenho medo que ela esteja à espreita. À espera que eu abra a porta, à espera de um momento de fraqueza pra poder entrar.
Tenho medo que ela entre e a ameaça se torne real. Tenho medo que a brisa que corre lá fora e vai afastando as nuvens me entre pela porta e se transforme no lobo mau que irá devorar a minha vida e destruir a minha paz.
Cá dentro, o meu amor dorme. Dorme o sono dos justos, dos esforçados. Adoro vê-lo dormir. Tão calmo e tão sereno. Dorme meu amor, que eu estou de guarda.
[Tenho medo que me falhem as forças e eu adormeça de exaustão]. 
Mas nada temas meu amor, enquanto eu tiver forças, não os deixo entrar. O meu coração e a minha razão são o meu escudo. O meu elmo e a minha espada.
Dorme bem, meu amor. Eu estou aqui. Eu continuo aqui.




domingo, 20 de outubro de 2013

Do barulho que vai cá dentro

Sempre fui conhecida por ser extremamente calada. Tímida. Pois, nem pouco mais ou menos. O problema reside no facto de que sempre gostei mais de ouvir do que falar. Prefiro considerar-me introspetiva, vá... Além disso, tenho dificuldade em confiar nas pessoas e em dar-me a conhecer verdadeiramente. A maior parte do tempo uso a máscara da pessoa que acho que os outros pensam que sou. Só ao fim de muito tempo mostro realmente o que cá vai dentro, o que gosto eu mesma, o que detesto, o que penso. E isto às vezes causa uma certa confusão, uma triste desilusão ou um delicado afastamento. Já aconteceu de tudo...
Para além deste triste cenário, desde adolescente que tenho a certeza que não tenho nada de interessante para dizer aos outros. Não tenho nada de novo para acrescentar ao que foi dito que seja realmente importante e digno de nota. Não tenho.
As pessoas não entendem este estado de espírito e provavelmente acreditam que estou ali por obrigação ou porque não tenho nada mais interessante para fazer. Talvez a minha postura corporal evidencie um estado de espírito que não corresponde à realidade. Prefiro milhões de vezes estar calada, sem um único pio e conseguir absorver tudo aquilo que é dito, o bom e o mau e conjeturar interiormente sobre aquilo que foi dito, ou vomitado em alguns casos. Além disso, cá dentro já somos muitos. Somos imensos. Tenho montes de pessoas cá dentro com quem conversar, discutir, desabafar. Somos já demasiados pra que eu consiga verbalizar muito mais do que o indispensável com o mundo exterior, com quem é externo a mim e à minha consciência. Cá dentro já somos muitos. Sou eu e eles. Somos muitos e um só e isso, acreditem, já me consome muita energia. Ando sempre cansada à conta destes diálogos internos. São milhões e milhões de sinapses que me consomem a energia que uma dieta pobre em hidratos de carbono me fornece. Vai daí que, não tenho tempo nem paciência para discussões infundadas, vazias de sentidos, opacas. Enfim... senhores, concentrem-se no óbvio, no necessário, no realmente importante. Não se ponham com disputas tolas, ilógicas e irracionais. O dia é demasiado pequeno, a vida é demasiado curta pra ser perdida em discussões parvas e pior, finalizadas com conclusões quadradas, pequeninas, patéticas. Que só me levam à certeza cada vez maior de que calada é que eu estou bem.

E depois há uma outra razão, calada e que raramente ousa verbalizar seja o que for. A razão mais problemática de todas e que me leva a voz quando dela necessito. Um problema maior do que perder imenso tempo a pensar no que dizer. O MEDO. Medo de magoar os outros com aquilo que vou dizer. Medo que as minhas palavras sejam como espadas que cortam a carne e rasgam a confiança que o outro tem em mim. Medo de desiludir. Medo de enfrentar a realidade, acima de tudo. Medo de enfrentar o problema. Medo do elefante que se instala na sala e no meio de nós quando eu ouso permitir que o meu problema saia da minha cabeça e ganhe voz. Deixa de ser mais um eu e passa a ser um nós. Uma realidade que não me consome só a mim, que nos consome aos dois. E isso mata-me mais do que mil facas. Magoa-me mais do que mil pedras. Espreme-me o coração e a alma. Porém, chega uma altura em que não aguento mais, em que tenho de falar e contar o que aquele eu me fez, nos fez, nos fizeram. Chiça que é difícil. E aí, chega a fase das acusações, da atribuição de culpas e da procura de uma solução.
És forte, bem mais forte do que eu e isso dá-me força pra levantar a cabeça, perder a vergonha e seguir em frente. Seguimos juntos, de mãos dadas. E é nessa altura que aquelas muitas pessoas dentro de mim tiram férias e me dão paz. E passamos a ser só nós os dois. E isso sabe-me muito bem. 
E por agora é só mesmo disso que eu preciso.

Call me Alice!


terça-feira, 15 de outubro de 2013

A mulher sonha, a obra nasce!


A mulher sonha e a obra nasce.

Mariana escreve o seu livro de receitas cozinhadas no coração e preparadas no fogão.

Para cada ocasião, Mariana prepara uma iguaria e a cada uma delas atribui o nome da pessoa, da ocasião, da situação, que lhe deu razão de ser.

Tudo isto em busca das 6000 palavras...

Serão certamente muitas receitas, muitas histórias, muitas personagens, muita confusão. Muitos mal-entendidos, muitos sentimentos contraditórios, muitas injustiças e muitos triunfos, muitas vitórias. Porque é assim que deve ser. É assim que eu quero que seja. É assim que eu gosto.

Bora lá pró fogão! 

Call me Alice!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cultivo do umbigo

Creio que hoje em dia assistimos a um novo boom. Não um baby boom, antes fosse. Não um boom ideológico, criativo, produtivo. Nada disso. Creio que assistimos a um verdadeiro boom umbilical. Sim, umbilical, de umbigo. Parece-me que vivemos na era do cultivo do umbigo. Cada umbigo é maior que o do próximo e o meu umbigo é deveras mais importante que o teu.
Ai de ti que ouses vitimizar-te à minha frente. Não sabes do que te falas. Os meus problemas são bem mais graves que os teus. A minha vida é bem mais desgraçada que a tua. O meu salário é bem menor que o teu. As minhas roupas não são de marca como as tuas. O meu carro é já da idade da pré-história. E blá-blá-blá... Resumindo, eu estou sempre pior do que tu. Cala-te lá, que eu estou bem pior do que tu.
Os sintomas observáveis desta nova tendência (cultivo do umbigo) são a intolerância, a impaciência, o extremo individualismo. O vociferar palavrões a toda a hora. O olhar para o lado e fazer de conta que não se vê, pelo menos três vezes ao dia. E, observado já nos casos mais graves, ignorar peremptoriamente o pedido de ajuda do outro que se encontra já em fase financeira terminal. Cruzes! Sai pra lá, pobre!
Esta nova tendência (que antes da dita crise financeira que vivemos era muito mais dissimulada) tende a proliferar em todos os círculos sociais, financeiros e até familiares. 
Aparece em qualquer esquina, sinal de trânsito, supermercado ou elevador. Os afetados parecem agora beneficiar da desculpa para serem extremamente mal educados a toda a hora e com quem quer que seja. Já não olham a meios para atingirem os seus fins. 
Os danos colaterais desta possível pandemia são enormes e irão sentir-se durante décadas.
Os nascidos deste boom terão sérias dificuldades em conseguir distinguir o certo do errado, o desculpável do indesculpável, o aceitável do inaceitável. 
Conceitos como solidariedade, entreajuda, companheirismo, cavalheirismo, respeito, farão parte do dicionário pré-acordo. Aquele dicionário altamente retrógrado que já ninguém utiliza.
Perante este cenário pandémico, a mim apetece-me fugir pró meio do monte, procurar uma ermida, de preferência uma caverna e construir uma espécie de bunker à prova de maldade e falta de respeito.
Ainda vou pesquisar a ver se é possível ficar imune a esta doença. Este belly boom, que tudo permite e tudo justifica.
Se alguém souber de que forma o posso fazer, por favor, não olhem só para o vosso umbigo, olhem também para o meu, porque apesar de se encontrar localizado numa espécie de protuberância abdominal, é ainda pequeno. Obrigada.

Call me Alice!