sábado, 14 de abril de 2018

Espaço Cozinha

Cozinha n.f. [plural e plurissignificante]: 
espaço de criação; lugar onde a magia acontece; tachos e panelas dançam numa sinfonia bem afinada e compõem belas partituras;
lugar quente da lareira a crepitar e das histórias no sofá;
lugar embrionário; território oficial do segredo; lugar dos abraços no chão e do colo de mãe.

Algumas das mais belas e vívidas memórias da minha ainda parca existência estão aqui. Neste, que sempre foi o lugar com cheiro a pão e pano lavado.
Lugar de contação de histórias, de educação, de empatia, de descoberta. Lugar de elucidação e valorização.
Espaço de aprendizagem maior acerca dos meandros, enleios e vicissitudes da socialização humana.
Aqui, todas as dinâmicas se teciam, ampliavam ou destruíam.
É aqui, no seio de um território ainda profundamente feminino, que o poder se dá. Que a vida se faz, se refaz. É aqui que se curam todos os males, os maiores e os menores. É aqui que se nasce e se morre várias vezes sem cessar. É aqui que o ser se faz humano, cresce e se eleva a um patamar maior que o egocentrismo que o acompanha. Aqui, por entre azulejos de diferentes cores e pavimento coçado pelo tempo, que a obra se completa. Os olhos abrilhantam-se a abrem-se para a vida que os rodeia. Os braços estendem-se e cumprem a sua função maior - abraçar. As mãos ganham vida e, num bailado impercetivelmente sincronizado, criam a alquimia que une, liga, enamora os seres.
Aqui, nas minhas memórias da cozinha.