quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Assim em jeito de prece...

Têm sido dias calmos, agradavelmente calmos, doces, com cheiro a caramelo e pão doce. Dias muito bons, estes que eu tenho vivido. Contudo, a calmaria acaba inevitavelmente por ter de dar lugar à ventania e esta, esperamos nós, cede novamente o seu lugar à primeira. É de paz e guerra que a vida é feita.
Por isso, e porque compreendo e respeito as marés, as fases da lua, tento aceitar esta indispensável inconstância, pedindo muito para ser junco ao pé do rio, que dobra, curva e bamboleia perante as fortes rajadas e que, mesmo estando prestes a desistir, não se curva até à agua e não quebra, não se deixa ir com a correnteza.
Quero muito ser junco.
Perante a ameaça, apenas peço no meu íntimo, ao meu coração e à minha alma de pássaro, que não cedam, que não quebrem, se mantenham fortes e bravos. 
Então vou pedindo assim em jeito de prece, que as estrelas me deem a coragem para nunca ceder, a bravura para aceitar aquilo que não posso mudar, a inteligência de saber quando partir, a força para não olhar para trás e seguir. Seguir. 
Acima de tudo, a firmeza para continuar, sabendo que, mesmo sendo difícil, mesmo me sentindo muitas vezes só, aquele é o meu caminho, não há nenhum outro. Como me disse a E. e eu não me esqueci, não tive outra escolha. Para haver possibilidade de escolha, teria de ter tido pelo menos duas opções. E essas, eu não as tinha. Pode não parecer, querida E., mas apesar de me quitar muda, quero que saibas que apaziguaste um bocadinho o meu coração.
Agora, em jeito de prece, que eu tenha a força para seguir firme, forte, coesa. Que eu saiba seguir sempre o caminho da luz e do bem, o meu caminho. Que eu tenha a perspicácia de me manter longe de quem nada me acrescenta. Que eu tenha a resistência e a tenacidade dos guerreiros de asa branca. Que eu me saiba escutar pacientemente. Que eu me saiba ver e aceitar. Que eu saiba ver e aceitar quem me faz bem. Que eu seja junco. E pássaro. E luz.