sábado, 14 de novembro de 2015

Do sorriso que não se vê

O título deste post deveria ser: "De quando ando a meter nojo aos outros" mas como reconheço que iria parecer muito mal, prefiro pensar noutro que logo escreverei.
Esta semana, e a propósito das atividades de comemoração do S. Martinho, decidi realizar uma atividade de escrita criativa com os miúdos. Como é uma das poucas coisas das quais ainda retiro prazer sinto-me genuinamente feliz ao realizá-la. Vai daí que, entre a busca insana de novos vocábulos pelo dicionário, um aluno assim mais pró livre e por isso, criativo, saiu-se com uma ideia muito engraçada. Nesse momento, o meu espírito acordou e eu dei corda à loucura. Naquele instante, múltiplas ideias brotaram, umas atrás das outras, e eu ri-me. Ri-me porque estava feliz e porque senti que estávamos a viver um momento daqueles muito especiais que acontecem na relação pedagógica. Vai daí que um aluno me diz: "-Ai, a professora riu-se." Ao que, ainda sem perceber o fundamento da constatação, respondi: "- Então, e qual é o mal?" A criança, do alto da sua bondade e sabedoria respondeu: "- A professora nunca se ri."
Aquela constatação caiu-me que nem uma pedra. Como é possível que ao cabo de... dois meses?... eu não me tenha ainda rido naquela sala e com aqueles meninos? Logo ali que eu me sinto tão bem? Tão acolhida, acarinhada e segura?
Aquela situação anda-me a moer o espírito desde o início da semana e à conta dela, tenho refletido bastante acerca da minha conduta. Não é normal um aluno dizer-me que não me rio. Gosto tanto daquilo que faço... sinto-me tão feliz e realizada ao pé deles... Não percebo. Existem uma série de pormenores que me têm vindo a escapar e isso deixa-me inquieta. Admiram-se por ser divertida e dizer coisas engraçadas. Não me parece que diga, mas eles acham que sim. Surpreendem-se porque corrijo a cor-de-rosa, roxo ou azul bebé e nunca me tinham visto a rir?!? Isto não é normal.
Estas chamadas de atenção obrigam-me a refletir e questionar o meu comportamento nos últimos tempos. Será que não me rio mesmo? Ou são eles que são distraídos? Andarei assim tão triste que já nem dou conta? A verdade é que no final de semana passada uma colega me alertou para o facto de que me sentia triste, em baixo e deprimida. Ri-me [sim, ri-me] e respondi-lhe que estava enganada. Que na realidade me acho bem, satisfeita, em paz, como não me sentia há muito tempo. Mas se calhar isso não é bem verdade...
E é então que me belisco e recordo que algumas pessoas me têm chamado à atenção para o facto de que levo tudo quanto me dizem a mal. Que respondo torto, sou agressiva, reativa. Negativamente reativa. Junto 2 + 2 e chego à conclusão de que o problema está em mim e não nos outros. Se calhar perdi a humildade, a bondade e a tolerância que a minha avó, bem ao jeito dos cânones católicos e apostólicos me ensinou.
Também é verdade que os humanos de quem eu gosto, ou aqueles que me acicatavam o espírito, me espicaçavam a mente ou me provocavam a querer ser mais e melhor já cá não estão ou estão longe ou então vestiram-se de transparência levando consigo os óculos de ver com os olhos interiores. Pergunto-me, é a vida ou sou eu? Se calhar sou mesmo eu... Por isso, car@s coelhinhos da minha floresta, leiam-me aqui um massivo pedido de desculpa pelo estado "iogurte estragado" em que me tenho encontrado. Prometo voltar ao exercício de me tornar um ser de luz, o ser que muit@s de vós merecem que seja.