terça-feira, 18 de julho de 2017

Mudanças

Hoje consegui arrancar mais uma raiz. Uma daquelas bem grossas, fundas e fundidas em nós. De tão funda e fecunda, levei... hum... sete anos (?) a arrancá-la. Sete anos, é verdade. Até dá vontade de rir de tão ridícula que às vezes sou. Mas hoje, ahhhhh, hoje consegui. Peguei com grande motivação, algumas ganas e muita força de vontade em tudo quanto me lembrava aqueles espaços e momentos, aquelas pessoas, os sonhos que teci e o desgosto que daí adveio, e que fiz questão de ir bordando com todo o amor, ilusão e estupidez ao longo destes anos todos, e atirei-os com grande fúria para o ecoponto. Queria muito tê-los atirado pra dentro do caixote do lixo rançoso que tinha ao lado, mas como sou uma gaja com elevada consciência ecológica, lá cedi à dita e mandei-os para o ecoponto. O pior disto tudo é que por mil ecopontos que encontre, milhares de milhões de caixotes do lixo ranhosos me cruze, ainda cá estão todos dentro, os inocentes e os culpados (onde me incluo). Ainda assim, as provas físicas (dos sonhos, da desmesurada alegria e da trágica desilusão), essas já foram. Essas, que nos dias em que não me lembrava de nada, faziam os meus olhos lembrar. E esses, esses nojentos, faziam o coração lembrar, outra e outra e outra vez.
Estou contente, porque agora sei que já só me falta vencer os dias em que tudo me faz lembrar dos cheiros, dos sabores, das vozes, dos lugares, das risadas, dos abraços (que nunca mais souberam da mesma maneira), da cumplicidade... Desses, infelizmente, acho que nem mais sete anos me farão esquecer. Valem-me as amargas memórias pra conseguir ir recalcando as doces.
Mas vá, estamos no verão, tempo de sol, de praia e de gelados e hoje até estou bem disposta. E consegui atirar tudo pró ecoponto. Viva a mim!

sábado, 8 de julho de 2017

Dias...

A vida é feita de muitas coisas. Dias bons, dias maus, dias assim-assim. São os dias assim-assim que me preocupam. Estes dias que não são carne nem peixe e dos quais não guardamos nada. São os dias rotineiros, os dias que nos aborrecem e nos levam a questionar a vida que temos. Para estes dias assim-assim tenho tentado desenvolver uma técnica. a estratégia utilizada é a de traçar objetivos, pelo menos um, para cada dia. Assim, procuro transformar os dias assim-assim em dias melhores. Dias mais ou menos úteis, positivos, pacíficos.
Continuo na Escandinávia. Aprendi a gostar de cá estar. Aprendi que a Escandinávia tem muito para oferecer, tem muito para me ensinar e está disposta a dar-mo, se eu deixar. Começo a deixar. Começo a deixar a Escandinávia entrar-me no peito e embalar-me com a sua voz doce e melódica e os seus cânticos galegos. Começo a ver a Escandinávia com outros olhos também, olhos de gratidão, de apego, de carinho. Já sei utilizar alguns dos vocábulos próprios e já consigo compreender aquilo que me dizem no país que fica a um quilómetro do meu. Aprendi, sobretudo, que se deixarmos a vida entrar, tudo fica mais fácil e mais bonito.
Agora, tento explicar à Escandinávia que apesar de ser dela, não posso deixar de ser de mim. Não posso esquecer-me de quem sou e abraçar tudo o que me quer dar. Passei muitos e longos meses de uma excruciante dor na prática do desapego e não pretendo largar a mão de mim e daquilo que decidi que seria a partir daí. O desapego foi-me imposto, daí a dureza da condição. No entanto, e fazendo um review, foi esta que me permitiu desenvolver capacidades de autonomia incríveis, poder de decisão (que era praticamente nulo), ter mais autoestima, independência e autovalorização.
O saldo foi muito positivo, portanto. 
Há que continuar nessa linha. Sinto que estou bem e que vou ficar bem. Mesmo estando na Escandinávia, sei que tenho muitos e valiosos amigos, que me apoiam, me aconselham e nunca me deixam sozinha. E esse é o bem mais precioso que agora tenho.
Um dia recupero tudo aquilo que perdi. Neste momento, os objetivos são outros e todos são merecedores da minha atenção.

Alice.