segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Que seja agora!

Tem que ser agora!
Sinto que o tempo urge e se não for agora nunca mais será.
Chegou a hora de me fazer a vontade, a mim e aos meus impulsos egoístas, egocêntricos e ego-maníacos. Que seja. Chegou a hora.
É tanta a vontade de escrever que me sinto sufocar. São tantas as ideias que me sinto atrapalhar nos pensamentos, situações, cenários, contextos e personagens. Os dedos parecem não ser suficientes para acompanhar a alegoria de situações que me passam diante dos olhos. É tal a sofreguidão pela escrita que as palavras me parecem falhar. Após meses de escassez crítica e criativa parece-me que o vocabulário se escoou pelo buraquinho da varanda com as primeiras chuvas.
A insegurança é cada vez maior e sinto-a engolir-me em toda a sua plenitude e arrogância. 
A crítica suga-me o impulso de escrever, pois receio até às entranhas não ser bem sucedida, não ser bem compreendida. 
Temo não fazer jus às lindas histórias que formulo dentro da cabeça e cozinho junto ao coração.
Pobre de mim. Pobre diaba a quem não podem dar uma réstia de esperança que logo a transforma num projeto de vida, no mínimo, num plano de sucesso para muitos meses.
A leitura e a escrita surgem na minha vida como amores primeiro e último. São o meu refúgio, a minha casa, a minha tentação, a minha desgraça. 
Anseio pelo momento em que me sento em frente ao computador e os cozinhados que andei a formular durante meses começam a ganhar cor, cheiro e sabor. Este é um momento mágico, um momento lindo que me enche o coração de sonho, de alegria e de esperança. Comove-me pensar que escrevo e porque escrevo. Escrevo para mim, escrevo para os outros mas sobretudo, escrevo por mim. Sim, agora escrevo por mim e para mim. Se aos outros agradar, tanto melhor. Não escrevo pela sede de ganho, de proveito monetário. Escrevo porque amo de paixão as palavras, as personagens, os cenários e as situações, que aqui são facilmente resolvidas.
Por isso, e mesmo sentindo-me esmagada e completamente "trocidada" por uma insegurança que me desmembra lenta e profundamente, escrevo. Vou continuar a escrever, a sentir as palavras à minha maneira, da minha maneira, por mais confusa e torta que seja. Vou continuar. Tem de ser agora. 
Call me Alice!


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quando a depressão ganha voz

"Esta é sem dúvida, uma das fases mais complicadas da minha vida. A que está a demorar mais tempo a passar. A que está a ocupar mais o meu pensamento e a toldar a minha maneira de ser e de ver o mundo, as pessoas e as coisas. A que está a deixar mais marcas. Aquela que começa já a prejudicar a minha vida pessoal e profissional.
Sinto-me cada vez mais só e mais isolada. 
A casa que outrora ansiava frequentar e organizar e cuidar, começa agora a revelar-se um ninho de sombras, angústias e tristezas e eu começo a detestar a minha casa e as minhas coisas e os meus cantos e os objetos que cuidava com todo o amor e que contavam a minha história e a da minha pessoa. 
Essa pessoa que sempre me amou mais do que eu merecia. E sempre me perdoou e sempre me acompanhou e sempre me apoiou e sempre se orgulhou dos meus feitos e das minhas conquistas por mais minúsculas que fossem. Essa pessoa começa já a olhar para mim com outros olhos. Com os olhos de quem não compreende porque não lavo o selvagem do cabelo há tanto tempo, porque passo tanto tempo de pijama ou porque já não me apetece comer. 
Adorava comer, apreciava um bom vinho, idolatrava o pão (e por isso andava sempre de dieta). Mas ele não se importava. Era sinal que gostava de mim e dele e me preocupava com a minha imagem. 
Agora olha para mim com um olhar de compreensão forçada, sempre na expectativa de que acorde desta dormência em que me encontro.
Consigo perceber isso claramente naqueles olhos que conheço de cor. Sinto-me fugir. Desaparecer na imensidão dos dias.
Sempre fui uma pessoa de sonhos. Sempre vivi de sonhos, de planos, de esperança, de otimismo. Agora os sonhos fogem-me por entre os dedos finos e parece que não há nada que eu possa fazer.
Eu sei que há sempre algo que eu possa fazer para contrariar esta desvontade, este desalento.
Sei exatamente o que posso fazer mas falta-me a vontade, a coragem, a força, a tenacidade e a teimosia de outrora.

É por isso que hoje abro a janela e grito lá para fora: "Já chega!" Abro as portadas, deixo entrar o ar e a luz do Sol. Ligo o pc e resolvo dar uma nova oportunidade a mim própria.
Vou à luta. E seja o que Deus quiser!"
Call me Alice!

Já quase me esqueci de ti...

Já quase me esqueci de ti!
Já quase me esqueci. Mas porque é tão difícil este quase? Por que raio continuo a procurar-te? A lembrar-te? A sentir-te? A sonhar-te?
Amor, moras em mim. Já uma vez o escreveste e esta frase continua a fazer eco na minha memória ao fim de tanto tempo.
Amor, moras em mim. Continuas entranhado na minha pele, nos meus lábios, no vale do meu queixo, nas minhas lembranças, nas minhas recordações. Estou sedenta das tuas palavras carinhosas que quero acreditar serem verdadeiras. Sonho com os longos abraços e as infinitas conversas que faziam o tempo e a vida parar lá fora. Ainda sinto o teu cheiro por toda a parte.
Não consigo livrar-me de ti. Não sei que faça pra conseguir arrancar-te de mim. Não sei como ordenar à razão que pare de lembrar e ao coração que pare de sentir. 
Odeio-te. Odeio-te por tudo aquilo que ainda representas pra mim. Odeio-te porque me fizeste mal. Odeio-te porque me desiludiste. Odeio-te porque me abandonaste. Odeio-te mais do que te amo. Amo-te mais do que queria.
Os dias continuam trágicos, pesados e desinteressantes. Demasiado lembrados, ainda.
Fujo, mas a distância não apaga a estrada que me leva até ti. Os quilómetros somam-se ao mesmo ritmo que se soma a saudade. 
Mas já quase me esqueci de ti.
Continuo a lembrar-me que foste o meu tudo e o meu nada. O meu certo e o meu muito errado. O meu sol e a minha chuva. A enorme alegria e a profunda tristeza. O sonho e a desilusão. O príncipe e o sapo.
O sentimento que prevalece nos dias mais soalheiros é apenas uma muito lisonjeira desilusão, disfarçada pela ilusão de que um dia volte a ser. Que um dia volte tudo a acontecer. Que um dia volte a sentir o meu "Era uma vez". Não me canso de o pedir, silenciosamente, de forma muda e mascarada.
No espelho que habita por trás dos meus olhos, estás tu. Continuas tu. E eu recrimino-me por isso. Auto-flagelo-me procurando relembrar todo o mal que me fizeste, todas as palavras que feriram e rasgaram o meu orgulho, a minha vaidade. Procuro, mais uma vez, as razões que me fizeram afastar de ti. Afasto-me mas não consigo ficar longe de ti e daquilo que fomos.
Amor, ainda moras em mim e não consigo tirar-te de cá. Não sei o que fazer. Não sei como fazer. 
Odeio-te mais do que te amo. Amo-te mais do que devia. Odeio-me por isso.
Quero odiar-te para sempre. Esquecer-me de ti. 
Parece que me lançaste um feitiço. Peço-te, por favor, dá-me o antídoto. Deixa-me viver. Deixa-me ser. Deixa-me sair e seguir o meu caminho. Não quero que me fales. 
Não quero que me escrevas. És a minha doença. E a minha cura. 
Amor, moras em mim. Mas eu quero que vás embora. Por favor, vai embora. E fecha a porta atrás de ti.

Call me Alice!