quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O outono chegou

 
 
O outono chegou; o outono chegou;
E toda a pureza e toda a alegria,
Tudo o que de belo o outono encontrou,...
Fresco como a luz diáfana do dia.
— Ele, o outono frígido que hoje chegou —
Tudo o que é feito de pura harmonia,
Desde a graça da flor à voz da cotovia,
Tudo sem dó, ele impiamente matou.
Todos o amaldiçoam já, com horror;
Embora! É ele para mim o verdadeiro amor!
Só para mim o outono mil encantos tem...
Por isso de joelhos, eu lhe peço agora:
— “Outono, meu outono, não te vás embora
Sem me levar a mim, sem me levar também!

Guilherme de Faria (outono de 1920)
 
 
Sê bem-vindo, querido outono. Estava já à tua espera.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

da magia dos sons

Ontem descobri-a, ou melhor, redescobri-a, reencontrei-a, pela mão de um ser de luz, um poeta. A maior parte das vezes ando em busca não sei bem do quê. Um texto que me faça arrepiar, uma dança que me comova, uma música que me encante. Algo que me faça crescer, que me acrescente qualquer coisa, que me alimente a alma. Alma inquieta e geralmente saciada pela veia da fruição. Hoje, a minha alma está feliz, plena de amor, palpitante de alegria, transpirada de boas e saudosas memórias, porque ontem reencontrei uma das mais belas melodias que os ouvidos escutaram, uma das melodias que pautaram e encheram as minhas mais queridas aulas. As aulas que me fizeram melhor e mais gostada. As aulas que me deram a conhecer as minhas forças e as minhas fraquezas em todo o seu esplendor. As aulas onde produzi amor, lambi e curei muitas feridas. Quase todas elas foram estrategicamente pensadas no sentido da reestruturação, da ressignificação de nós mesmas e sempre polvilhadas com pequenas obras de arte. Entre elas, esta que gentilmente partilho com quem quiser escutar. Muitos dos que me leem (e que eu delicada e afetuosamente beijo) poderão não perceber a força que esta exerce sobre mim, pois que não a conseguem associar aos campos de girassóis nem à magia dos afetos que brotava daquelas aulas. Não me sinto magoada por isso. Apenas peço que a escutem. Não é uma melodia triste ou funesta, pelo contrário. Conta uma bela história de luta, força, coragem, dádiva, amor.
Mais do que explica-la, é necessário ouvi-la, senti-la, tatua-la, se assim o desejarem.

Boa viagem!

sábado, 19 de setembro de 2015

trilhando pela História

Hoje está um belo dia de outono. Estou consciente de que o verão ainda não acabou oficialmente, mas dentro dos meus olhos e encostado à pele está o outono, o meu outono. O outono dos dias ensolarados e frios. O outono dos dias bem-dispostos mas ventosos que me fazem ir buscar os adorados lenços, echarpes e cachecóis. O outono das manhãs frias e das tardes quentes. Esse outono que é morno sem ser quente. O outono dos solitários passeios à beira-mar, sem atropelos, sem pressas, sem toalhas ou parques a abarrotar. Esse outono que vive o ano inteiro dentro de mim.
Ontem foi dia de celebrar o outono. Como geralmente acontece, exagerei. Vivo estes momentos tão intensamente que me forço ao ponto de no dia seguinte ter que encerrar para manutenção.
Ontem calcorreei novamente as ruas do Porto, desse Porto que tenho vindo a descobrir ser retemperador. Esse Porto que me tem oferecido experiências fantásticas e grandes momentos Kodak.
Não o conhecia assim. Sentia-o das memórias de infância e adolescência, quando percorríamos a rua de Santa Catarina em busca dos jeans perfeitos. Quase sempre com o dinheiro contado, ou sem dinheiro, era o Porto da rua de Santa Catarina que eu conhecia. Agora não. Agora começo a sentir e a respirar o Porto em toda a sua imponência. Das igrejas aos museus, passando pela baixa e zona ribeirinha, começo a adorar todos os cantinhos. A história impressa em cada pedra, em cada azulejo fazem-me querer regressar muitas vezes e repetir os trajetos já percorridos. Ontem fi-lo sozinha. A minha fiel companheira ocupou-se de outras responsabilidades mais nobres. Por isso, muni-me da minha música e parti em viagem pelo Porto. Gostei. Mais uma vez, gostei muito deste Porto do Bolhão, das tradições e os becos. [Gaja Ana Raquel, tenho que te levar nesta viagem. Sei que vais gostar de conhecer esta outra vida da cidade.]
Hoje é suposto lá voltar. [Querida Rosa, não sei como vai ser... Pressinto que será uma anedota só]
Queridos ossinhos, articulações e demais obstáculos, permitam-me lá voltar e continuar a sentir, a experimentar, enfim, a viver.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Uma espécie de manual

Dica do dia: Com perseverança, tudo se consegue.
 
Adenda: Ignora as parvoíces, desliga o complicómetro, aniquila as vírgulas que só servem para meter o nariz onde não são chamadas, arregaça as mangas, limpa o suor e cria.
E quando já te sentires cansada, aborrecida, com vontade de desistir porque te parece que não saiu nada de jeito, esquece. Fecha o documento, amanhã voltas a lê-lo. A manhã traz outra clarividência que um dia carregado de nervos e insegurança não te deixou perceber. E depois aí percebes que tens novamente que consultar o manual de sobrevivência psicológica. E depois de interiorizares toda a informação, respiras fundo e procuras encontrar o teu eixo. O eixo que te permite voltar a devanear e a criar tão delicada e profundamente que te comoves. E é então que aquele texto, aquela belíssima obra de arte te sai das mãos e se faz nascer. Não voltes a lê-lo. Se o fizeres vai encontrar-lhe falhas, disputas frásicas, quezílias antigas entre sujeito e predicado. Irás concentrar-te em todos eles e perder o essencial. O melhor de ti. Está lá mas tu não o vês. Não o leias. Simplesmente envia e espera a resposta da multidão. Daquela multidão tão grande que de um suspiro cria um mundo dentro de ti. Espera. Olha a chuva. Absorve a sua humidade. Irá regar os planaltos secos dentro de ti. Encherá novamente os teus rios quase morridos para que estes possam voltar a correr dentro das tuas veias com toda a sua pujança. Aguarda. Caso contrário, produzirás o gémeo que não mais servirá do que para demonstrar a fraqueza da tua força. Se chegares ao ponto insano de o tornar matéria viva esforça-te por guardá-lo na gaveta para quando dele necessitares. De outra forma, estarás a expor a confusão e o desassossego que te habitam. Não o faças. Não para já. Sê amiga de ti mesma.
 
P.S.: E se nada disto funcionar, recomeça. Recomeça uma e outra vez até que encontres o teu eixo, o ponto de equilíbrio entre o êxtase e a alegria que a audácia de criar provocam em ti e o bloqueio produzido pelo receio de desiludir e de falhar. Simplesmente recomeça. Isso há de passar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Em crescimento...

Em processo de crescimento literário. Sofrido processo de incubação, este.  Vou ali apanhar um sopro de ar frio e  já volto.

sábado, 12 de setembro de 2015

Amorizade

Ultimamente tenho sido acometida por elevadas doses de amorizade. Estas, ainda que tomadas em forma de placebo têm servido para acalmar os desatinos, fazer esmorecer os desaires e, como qualquer medicação tomada em excesso, têm exercido alguns efeitos adversos. Contudo, estes efeitos revelam-se arrebatadoramente positivos. Estimulam-me a produção de gargalhadas, desinibem-me os abraços, abrandam-me as lágrimas e fortalecem-me a autoestima. Acima de tudo, têm conseguido encher o meu coração de amor, amizade, carinho e elevadas doses de doçura.
Estes comprimidos, ainda que placebos, surgem-me na forma de amigos. Amigos que dia após dia têm vindo a conseguir alterar o estado de agonia, tristeza e desesperança que me assolava há muitos meses e para os quais já não conseguia encontrar remédio, mezinha ou poção. Muito sinceramente, não sei o que lhes fiz para ser digna de tão maravilhoso tratamento mas a verdade é que, entre longos mas sempre curtos telefonemas, pudins, piscinas e alfarrobeiras sinto-me recuperar. Os placebos carregados de amor e carinho têm sido a cura para um coração empedernido. Sinto que os bons velhos tempos regressam. Bons e velhos na medida do possível, vá. Já não sou quem era. Mudei. Embruteci. Deixei de sonhar. Deixei de crer. Fiquei mais forte. Mais segura. O balanço que faço desta história de dor acaba por ser positivo. Perdi-me muitas vezes ao longo do caminho mas começo já a ouvir chamarem por mim. E neste percurso de dor, começo a reencontrar o amor. Uma forma de amor que guia, orienta, reforça, cura - a amorizade.
Ontem à tarde praticámos mais um exercício de amorizade. E foi tão bom. Hoje acordei tão feliz. Percorremos imensas ruas, visitámos muitas e deveras interessantes lojas, conhecemos, partilhámos. Tivemos tempo para contar nossas histórias, chorar palavras e, por entre espaços de mútua compreensão, começar o processo de cura. É lento, doloroso, mas se for tecido por entre abraços e inocentes gargalhadas, acaba por tornar-se mais fácil.
Resumindo, adorei o dia de ontem. Tal como tenho adorado o exercício de dádiva e profunda doação que me tem sido ofertado. Tenho de agradecer profundamente a cinco bravas guerreiras, pelo amor, pelo carinho, pela atenção, pelos placebos que me têm ajudado a crescer forte e robusta. Elas são as tulipas do meu jardim. Cada uma tem sua cor, cada uma tem seu desabrochar. Cada uma um período de rega diferente. A todas faço questão de fertilizar. Apareceram-me em diferentes estações, mas sempre na altura devida. Todas juntas compõem o colorido da minha varanda.
Obrigada, queridas Bé, Joana, Liliana, Raquel, Rosa.
 
* E agora se me dão licença, está na hora de ir fazer outro pudim ;)