Ultimamente tenho sido acometida por elevadas doses de amorizade. Estas, ainda que tomadas em forma de placebo têm servido para acalmar os desatinos, fazer esmorecer os desaires e, como qualquer medicação tomada em excesso, têm exercido alguns efeitos adversos. Contudo, estes efeitos revelam-se arrebatadoramente positivos. Estimulam-me a produção de gargalhadas, desinibem-me os abraços, abrandam-me as lágrimas e fortalecem-me a autoestima. Acima de tudo, têm conseguido encher o meu coração de amor, amizade, carinho e elevadas doses de doçura.
Estes comprimidos, ainda que placebos, surgem-me na forma de amigos. Amigos que dia após dia têm vindo a conseguir alterar o estado de agonia, tristeza e desesperança que me assolava há muitos meses e para os quais já não conseguia encontrar remédio, mezinha ou poção. Muito sinceramente, não sei o que lhes fiz para ser digna de tão maravilhoso tratamento mas a verdade é que, entre longos mas sempre curtos telefonemas, pudins, piscinas e alfarrobeiras sinto-me recuperar. Os placebos carregados de amor e carinho têm sido a cura para um coração empedernido. Sinto que os bons velhos tempos regressam. Bons e velhos na medida do possível, vá. Já não sou quem era. Mudei. Embruteci. Deixei de sonhar. Deixei de crer. Fiquei mais forte. Mais segura. O balanço que faço desta história de dor acaba por ser positivo. Perdi-me muitas vezes ao longo do caminho mas começo já a ouvir chamarem por mim. E neste percurso de dor, começo a reencontrar o amor. Uma forma de amor que guia, orienta, reforça, cura - a amorizade.
Ontem à tarde praticámos mais um exercício de amorizade. E foi tão bom. Hoje acordei tão feliz. Percorremos imensas ruas, visitámos muitas e deveras interessantes lojas, conhecemos, partilhámos. Tivemos tempo para contar nossas histórias, chorar palavras e, por entre espaços de mútua compreensão, começar o processo de cura. É lento, doloroso, mas se for tecido por entre abraços e inocentes gargalhadas, acaba por tornar-se mais fácil.
Resumindo, adorei o dia de ontem. Tal como tenho adorado o exercício de dádiva e profunda doação que me tem sido ofertado. Tenho de agradecer profundamente a cinco bravas guerreiras, pelo amor, pelo carinho, pela atenção, pelos placebos que me têm ajudado a crescer forte e robusta. Elas são as tulipas do meu jardim. Cada uma tem sua cor, cada uma tem seu desabrochar. Cada uma um período de rega diferente. A todas faço questão de fertilizar. Apareceram-me em diferentes estações, mas sempre na altura devida. Todas juntas compõem o colorido da minha varanda.
Obrigada, queridas Bé, Joana, Liliana, Raquel, Rosa.
* E agora se me dão licença, está na hora de ir fazer outro pudim ;)