quinta-feira, 22 de maio de 2014

Gonçalo

Hoje o meu sobrinho faz dois anos.
Pensei em mandar sms a dar os parabéns, porque, verdade seja dita, vontade para grandes conversas não tenho. Depois, pensei em ligar mas quando me lembrei, já passava da hora para o fazer.
Ao vir da escola, decidi-me a passar em casa da minha mãe. Sabia que o miúdo estaria por lá e por isso, sem grandes subterfúgios ou manobras de diversão, poderia dar-lhe um beijinho de parabéns.
Ele conhece-me. Apesar de disfrutarmos pouco do tempo um do outro, sabe que sou a tia Lili.
É tão fofo e tão ruim ao mesmo tempo. Etão inteligente também. Possui uma grande capacidade comunicativa e é muito sociável (não sei a quem puxou...)
Adiante...
O que me deu mesmo vontade de escrever este post foi o sentimento de carinho e ternura que enche a casa dos meus pais. Quando lá vou venho sempre grávida de amor e compreensão. É uma coisa impressionante.
Quando lá cheguei, vi a tenda armada e a barraca montada. O meu pai e o meu sobrinho tocavam um órgão que o meu pai lhe ofereceu, porque o miúdo só gosta de chaves e construções e instrumentos e coisas esquisitas. Nada de bonecadas ou joguinhos educativos. Quer coisas de verdade. E se puder tirar tudo da nossa carteira e explorar, tanto melhor.
Adiante. Era tanta a alegria e a barafunda à conta de uma música que tocou umas cem vezes enquanto lá estive, que me deixou impressionada.
A casa dos meus pais é uma casa cheia de ar. Muito modesta e muito simples. Mas o miúdo e o órgão e a alegria deles enchia as divisões e esbarrava contra as janelas.
É impressionante como tendo tão pouco sempre tiveram a capacidade de fazer muito. E isso diz-me tanto.
O órgão é em segunda mão mas a experiência, a partilha, a memória feliz, essas são de primeiríssima qualidade.
E um abraço cheio de amor e de uma abafada saudade, ao meu pai e à minha mãe.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

De ontem...

22 horas: desligo o tacho e sento-me no sofá. Percorro a programação em busca da minha querida e adorada "Good Wife" (série de eleição que ultimamente só consigo ver uma série de dias depois de ter dado). Cá está ela. Ajeito-me no sofá e penso: Ah, finalmente estou em casa. A vida é bela!
Olho para o telemóvel. São 7 da manhã.
What? Que aconteceu? Pois... Lá se foi a minha Good Wife pregar pra outra freguesia e a minha confort food ficou no tacho... Agora tenho comida pra três dias, no mínimo.

Este triste episódio quer dizer alguma coisa, não quer? Hum...


segunda-feira, 12 de maio de 2014

A carta

Aqui fica a carta que nunca tive coragem de enviar mas que finalmente consegui escrever... Para ti, que não me lês:

«C. , minha querida amiga. Como estás?
Sinto a tua falta.
Desculpa se não te pergunto pelos teus filhos, pelo teu marido ou até o teu trabalho, mas este é o momento para lembrar, para recordar o que já lá vai e que eu sinto tanta falta.
Sabes, ultimamente têm-me vindo à memória muitas das nossas vivências de infância e eu não consigo perceber porquê.
não sei se te cheguei a dizer, mas estou a fazer mestrado em Animação da Leitura (imagino que pra ti não deva ser surpresa nenhuma esta minha escolha) e encontrei aqui uma Professora que tem o condão de me fazer recordar e falar (?!?) daquilo que sempre me custou falar.
conheces-me bem. Sabes que prefiro inventar, criar cenários e realidades que não são a minha pra me sentir bem nela (o que irrita o mundo à minha volta). Mas esta Professora consegue entrar e remexer a minha Caixa de Pandora.
Podes imaginar que, apesar de difícil, isto me está a fazer um bem de proporções bíblicas. 
Não sabes ainda, mas agora choro. E tenho chorado pelos anos todos em que não o consegui fazer. E sinto-me muito mais leve. Muito melhor comigo e mais minha amiga. Ah, e escrevo. Ou melhor, voltei a escrever.
E esta tem sido outra força que me tem ajudado a lembrar e a lidar e a tolerar e a perceber, ou melhor, aceitar.
e foi toda esta conjugação de fatores que me levou a escrever-te esta carta.
Uma carta  egoísta na qual não te pergunto pelos teus filhos nem te digo que estás demasiado magra nem cogito que não tens tempo pra me ler.
Esta é uma carta de saudade. Uma carta na qual te digo com todas as letras e sem subterfúgios, que sinto a tua falta.
Sinto penosamente falta do nosso pinhal, do Mogli e de tratarmos dele. Sinto falta do barraco, da nossa loja, da sopa de bolotas. Da figueira, das laranjas caídas no chão e que comíamos às escondidas da tua avó.
Sinto falta dos nossos passeios e do vomitado do cão no chão do carro. Como é que se chamava o cão? Já não me lembro...
A minha Duda morreu... ataque cardíaco. Sinto falta dela e dos seus 43 quilos. Sinto falta da baba e do ladrar. 
Sinto falta de te chamar "Carla Sopa". Há já tantos anos que não te chamo "Carla Sopa". Podes-me chamar Lili Escaganibotética. É uma troca justa e prometo que não vou chorar à conta disso.
Já te disse que sinto a tua falta? E que odeio aquele prédio na Rua Delfim de Lima que acabou com o nosso pinhal e te fez ir embora?
Desculpa se não te pergunto pelos teus filhos mas sinto a tua falta. 
Espero que me perdoes todos estes anos de falta e percebas como me fazes falta.
Posso passar em tua casa?

Um abraço apertado (daqueles que nunca soube dar).»

Lili Escaganifobética